Portugal: Aumenta número de sem-abrigos, incluindo imigrantes

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FOTO: Dean Purcell ©

Manuel Matola

A Assistência Médica Internacional (AMI) diz haver um número significativo de imigrantes que estão a viver na rua em Portugal, onde há cada vez mais sem abrigos de todos os espectros sociais.

Só no primeiro trimestre de 2023, aquela organização portuguesa registou um aumento de 46% no número de pessoas que recorreram, pela primeira vez, aos seus equipamentos sociais em Portugal.

O número de novos casos de pessoas em situação de sem-abrigo cresceu 53% em relação ao período homólogo de 2022.

Neste grupo, há vários imigrantes provenientes de diferentes geografias, desde o espaço lusófono africano até à região Sul da Ásia como o Nepal, Bangladesh, Índia.

Só os sem-abrigos dos países de África que falam português e que solicitaram apoio àquela organização representam 6% dos pedintes entre portugueses e cidadãos estrangeiros residentes em Portugal.

“Das pessoas apoiadas” quase “50% são homens – 2692 – e 50% são mulheres – 2717, encontrando-se a maioria em idade ativa, entre os 16 e os 66 anos (70%), seguida do grupo de menores de 16 anos (21%) e dos maiores de 66 anos (7%). São naturais de Portugal (79%) e dos PALOP (6%)”, resume um relatório da AMI hoje divulgado.

Segundo o documento a que o Jornal É@GORA teve acesso, as Equipas de Rua da AMI apoiaram 173 pessoas em situação de sem-abrigo no primeiro trimestre (um aumento de 30%).

A mesma fonte refere que os serviços sociais da AMI em Portugal apoiaram, no primeiro trimestre de 2023, 5409 pessoas em situação de vulnerabilidade social, das quais 533 procuraram o apoio da AMI pela primeira vez (um aumento de 46% em relação ao primeiro trimestre de 2022).

Por trás dos números há rostos com estórias de vida real e de incerteza quanto ao futuro, em parte, resultado da situação pandémica que levou a que vários imigrantes africano perdessem a casa e até hoje não recuperassem.

Moussa Baldé já trabalha há muitos anos a construção civil como armador de ferro. Quando deixou Castelo Branco, veio para Lisboa e não tinha onde morar. Pediu na Santa Casa, que deu “uma ajuda muito útil” porque a situação económica por causa da pandemia não deixava muitas alternativas. Na altura em que estava em processo de legalização. O albergue minorou a situação do imigrante que viveu momentos difíceis.

“Quando cheguei, [consegui] encontrar um sítio, a casa, sobretudo aqui em Lisboa [um exercício que foi um] bocadinho difícil; e se encontras também é um bocadinho caro. Não tinha praticamente sítio nenhum. Fui logo [atendido], me orientaram e, a partir dali, começaram a dar um apoio todos os meses. Agora, com a orientação deles, estou num albergue em Beato. Ao menos se pode dormir. E muitas vezes também dão refeições,” contou o imigrante guineense à DW,

No que diz respeito ao emprego, 43% das pessoas com mais de 16 anos, não exerce qualquer atividade profissional e 41% não tem formação profissional. Os recursos económicos provêm sobretudo de apoios sociais como o RSI – Rendimento Social de Inserção (18%), pensões e reformas (10%), subsídios e apoios institucionais (5%). Apesar de 8% ter rendimentos de trabalho, esses são precários e insuficientes, aponta a Fundação AMI, de seguida, aponta o relatório agora divulgado pela AMI.

“O número de pessoas acompanhadas em situação de sem-abrigo atingiu, neste primeiro trimestre de 2023, 873 pessoas (mais 14% face ao primeiro trimestre de 2022), tendo-se registado 142 novos casos de pessoas em situação de sem-abrigo (mais 53% face ao primeiro trimestre de 2022)”, sublinha a organização não governamental portuguesa, fundada em 1984 pelo médico-cirurgião Fernando Nobre, com o objetivo de intervir em situações de crise humanitária em nível mundial.

No que diz respeito aos serviços prestados pelos equipamentos sociais da AMI em Portugal, 1312 das pessoas acompanhadas usufruíram do Apoio Social, 1343 pessoas foram apoiadas com distribuição de géneros alimentares, e 600 pessoas recorreram ao serviço de refeitório, um dos mais utilizados neste primeiro trimestre, num total de 40.043 refeições servidas nos Centros Porta Amiga, Abrigos Noturnos e Serviço de Apoio Domiciliário.

Concluindo, a AMI alerta: “A pressão social não para de subir, mas os apoios, infelizmente, não acompanham este aumento já que a classe média, maioria dos nossos doadores, começa a ficar em risco de pobreza”. (MM)

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