Manuel Matola
A embaixada portuguesa na Índia voltou a atribuir vistos para o reagrupamento familiar aos quase 350 cidadãos de Bangladesh que tinham processos pendentes há dois anos devido ao agravamento da situação pandémica e decisões impostas pelo governo local.
A Secção Consular da Embaixada de Portugal em Nova Deli cobre quatro países da região asiática: a própria Índia, o Bangladesh, Nepal e Sri Lanka.
O imigrante bengali Abul Islam esperou mais de um ano por um visto para reagrupar o seu filho e a sua mulher em Portugal, enquanto um dos membros da Associação do Bangladesh no Barreiro aguardou por uma resposta da Secção Consular da Embaixada portuguesa em Nova Deli para dar visto à mãe que, entretanto, já faleceu à espera de rever o filho residente na região de Setúbal.
Em declarações ao jornal É@GORA, o presidente da Associação do Bangladesh no Barreiro, Zuber Ahmed, garantiu ter recebido queixas de aproximadamente 350 cidadãos do seu país de origem na mesma situação, mas que já começaram a receber vistos de reagrupamento familiar.
Segundo Zuber Ahmed, a longa batalha desses imigrantes do Bangladesh pelo reagrupamento estava a criar problemas no seio familiar havendo filhos e esposas que acusavam pais e parceiros em Portugal de terem desistido de si em plena época pandémica.
“Tenho um amigo cuja mulher ameaçou iniciar o processo de divórcio”, contou Zuber Ahmed, presidente da Associação do Bangladesh, durante uma entrevista recente ao jornal É@GORA onde denunciava uma situação que, de resto, é do conhecimento do próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), que antes dava uma semana para atribuir os visto, cujos prazos passaram a ser mais dilatados mesmo depois do aval do SEF dado para o reagrupamento familiar.
Em resposta às questões colocadas pelo jornal É@GORA, o MNE garantiu anteriormente que esperava que “dentro de algumas semanas” recuperasse o atraso no processamento dos pedidos de visto na Secção Consular da Embaixada de Portugal em Nova Deli.
As autoridades diplomáticas portuguesas justificaram o atraso, por um lado, com a situação da Covid-19 e, por outro, com o facto de, “nos últimos anos”, ter havido um “incremento do número de pedidos de visto, fruto do aumento da imigração com origem em países desta região asiática coberta pela Embaixada (Índia, Bangladesh, Nepal e Sri Lanka), encontrando-se hoje entre os 10 postos diplomáticos que maior número de vistos emite”.
O MNE prometeu enviar “uma missão especial composta por funcionários da Direção de Serviços de Vistos” para “fazer face a esta situação de maior pressão conjuntural” na Secção Consular onde se verificam “prazos mais dilatados para processamento dos pedidos” de visto.
O presidente da Associação de Imigrantes do Bangladesh no Barreiro admitira, no entanto, realizar numa manifestação de rua para erguer a sua voz contra a “frustrante” demora, até porque do próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros obteve uma resposta diferente da que foi dada ao jornal É@GORA pela instituição do governo português.
Portugal acolhe cerca de 25 mil imigrantes de Bangladesh, uma das comunidades estrangeiras que mais cresce no território português. (MM)