O Presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, exigiu em Lisboa que a “justiça seja feita” no caso de estudante cabo-verdiano, Luís Giovani Rodrigues, assassinado em dezembro em Bragança, num ato que descreveu como sendo “verdadeiramente brutal”, que tornou o jovem de 21 anos no imigrante mais mediático em Portugal.
Em declarações aos jornalistas, na capital portuguesa, Jorge Carlos Fonseca considerou “fundamental que o processo corra os seus termos de uma forma normal, que a investigação prossiga e que, no final, a justiça seja feita perante um caso que foi verdadeiramente brutal”.
O chefe de Estado cabo-verdiano falava no final da primeira visita oficial que efetuou a Portugal após a morte de Luís Gioavani Rodrigues, no dia em que passou um mês do incidente, mas sem data marcada para o julgamento.
“Foi um acontecimento muito lamentável, no caso uma morte brutal de um cidadão cabo-verdiano. Isso gerou uma onda generalizada de dor e indignação na sociedade cabo-verdiana e mesmo nas comunidades cabo-verdianas no exterior, o que é compreensível dado a natureza do evento e a forma como as coisas aconteceram”, referiu em Lisboa, onde participou no Conselho de Estado a convite do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
O Presidente cabo-verdiano disse “ter registado a solidariedade dos estudantes portugueses, colegas de Giovani em Bragança”, das “atividades religiosas de Bragança, dos responsáveis pelo Instituto Politécnico de Bragança” e “as reações das autoridades portuguesas”, após o homicídio do jovem estudante de 21 anos, morto a 31 de dezembro em Bragança.
Luís Giovani Rodrigues chegou em outubro do ano passado à região de Mirandela para se formar no Instituto Politécnico de Bragança. Mas na madrugada do dia 21 de dezembro, o imigrante cabo-verdiano foi encontrado ferido numa rua de Bragança e 10 dias depois morreu num hospital do Porto, para onde fora transportado.
O caso tornou-se polémico em Portugal por quase não ter sido divulgado pelos principais “media” nos grandes centros urbanos e surgiram vozes na sociedade portuguesa a condenar o ato e, nas redes sociais, surgiu a tese de ódio racial associada à morte do estudante cabo-verdiano.
O presidente do Instituto Politécnico de Bragança Orlando Rodrigues, citado pela Lusa, disse que se tratou de uma “rixa no ambiente noturno”.
Mas à Lusa, o comandante dos bombeiros de Bragança, Carlos Martins, referiu que o caso de Luís Giovani Rodrigues chegou às autoridades de Bragança como um possível alcoolizado caído na rua sem menção a agressões ou ferimentos.
Só depois de chegar ao local e avaliar a vítima é que a equipa de emergência descobriu um ferimento na cabeça e “verificou que se tratava de um possível traumatismo craniano”, segundo contou Carlos Martins.
Mas houve outras versões: O bar onde o jovem cabo-verdiano estava com amigos publicou nas redes sociais um esclarecimento a confirmar que na madrugada do dia 21 de dezembro, “por razões desconhecidas, dois clientes envolveram-se em confrontos no bar”, escreveu a agência Lusa.
O jovem estava caído na Avenida Sá Carneiro, junto a uma loja (a W52), mais de meio quilómetro e alguns minutos a pé do bar Lagoa Azul onde terá estado com um grupo de amigos e onde terá começado uma desavença apontada como a origem da agressão.
Um primo da vítima contou ao jornal “Contacto” que a desavença terá começado por um dos amigos de Giovani ter tocado numa rapariga e o namorado não ter gostado.
Segundo o mesmo, quando o grupo de Giovani saiu do bar era aguardado por vários elementos “com cintos, paus e ferros” que terão agredido o elemento envolvido na desavença com a rapariga.
O mesmo relato indica que Luís Giovani Rodrigues terá intervindo para parar a contenda e foi atingido com “uma paulada na cabeça”, o que terá feito o grupo dispersar.
Após investigação do caso, a Polícia Judiciária considerou que na origem do caso esteve “um motivo fútil”.
Segundo relatos do jornal Público, “a autópsia foi inconclusiva, não esclarecendo se a morte foi provocada pela agressão ou pela queda” na rua, onde o jovem foi encontrado inanimado.
Já o Jornal de Notícias, que publicou a estória do caso no 01 de janeiro, dava conta que a morte do jovem terá sido causada por “ferimentos considerados graves que resultaram de agressões durante uma escaramuça que envolveu várias pessoas”.
Um mês depois, as autoridades judiciais anunciaram a detenção de cinco cidadãos, suspeitos pelos crimes de homicídio qualificado e três tentativas de homicídio do estudante cabo-verdiano. O tribunal da Comarca de Bragança determinou a prisão preventiva do grupo, contudo, afastou a hipótese ter sido motivado por ódio racial.
A propósito, o Presidente de Cabo Verde considerou que “essa reação e emotividade social, coletiva muito forte é compreensível, dado a natureza do evento e a forma como as coisas aconteceram”.
“Estou convencido que o mesmo sucederia noutras sociedades se a vítima não fosse cabo-verdiana”, afirmou o chefe de Estado de Cabo Verde, que também preside a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), cujo futuro foi tema da sua intervenção no Conselho de Estado, órgão de consulta do Presidente de Portugal. (MM)