Primeiro grupo de brasileiros ‘acampados’ no aeroporto de Lisboa chega ao Brasil

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Após dias expostos ao frio de Portugal, o imigrante André Sonci (ao centro) é recebido por familiares em São Paulo
    Elisabeth Almeida (Correspondente em São Paulo)

Na madrugada desta sexta-feira, milhares de pessoas desembarcaram na Aeroporto Internacional de São Paulo, como todos os dias. A diferença é que no meio de tantos viajantes, um grupo em especial teve uma sensação diferente ao chegar ao Brasil: uma parte do grupo de brasileiros ‘acampados’ do lado de fora do aeroporto de Lisboa e que finalmente tiveram sua glória, após dias de luta contra o frio, a fome e a incerteza do repatriamento.

“Bom gente, desculpa esse tempo todo (sem se comunicar), o clima aqui foi tenso, foi horrível, mas a polícia esteve aqui e eles disseram que nós vamos embora amanhã. Todos nós que ficamos aqui na luta, vamos embora, nós conseguimos! A gente conseguiu! Graças a Deus e a vocês! Conseguimos! Conseguimos! Nós conseguimos!” disse André Soncin em áudio enviado, no dia 29 de abril, à equipa do Jornal É@gora.

O grupo é composto por apenas 13 pessoas que conseguiram vaga no sexto voo de repatriamento, e último, fretado pelo governo brasileiro, com gasto de 1,4 milhões de euros. Hoje, dia 1 de maio, às 10h30 saiu outro voo comercial pela companhia Azul, que também terá outra partida com destino ao Brasil, na próxima segunda-feira, pela mesma empresa aérea.

Os cidadãos, que antes somavam quase 80 pessoas, aos poucos foi-se desfazendo e o número de brasileiros que continuo no exterior do aeroporto Humberto Delgado em Lisboa em busca de uma oportunidade de voltar ao Brasil se resumiu a 30 pessoas que iniciaram o movimento no dia 25 de abril.

Após 13 embarcarem no voo de repatriamento, as 17 que ficaram “para trás” e não conseguiram vaga nos voos desta semana foram encaminhados para um hostel oferecidos pelo Consulado brasileiro juntamente com a Polícia de Segurança Pública (PSP).

Parte dos repatriados brasileiros
Apesar da ajuda do governo de ambos os países, não é garantido que estes 17 sejam remanejados no voo de segunda-feira.

“Tudo indica que na semana que vem, todos estarão em casa, mas eu só vou descansar mesmo quando todos estiverem a embarcar para o Brasil. Espero realmente que, se Deus for grande como é, eles consigam ir na segunda-feira. Vamos orar por eles, fazer uma corrente de energia forte para que eles consigam estar com suas famílias e filhos”, deseja José Rafael Batista, um português que abraçou a causa e desde sábado esteve junto com os imigrantes na luta pelo repatriamento dos brasileiros.

“Eu sou português, minha esposa é brasileira e nos unimos a esta causa, que soubemos pelas redes sociais e fomos para lá e estivemos com eles dia e noite. Só de saber que conseguimos os por (os 17 que ficaram) em uma cama, com banho e conforto, foi ganhar uma luta! Uma grande luta, mas não a batalha, pois esta só será dada como vencida quando todos eles estiverem no avião a caminho de casa e junto à família. Aí sim, vou ganhar a batalha! Eu e todos do grupo”, conclui José Rafael.

Logo ao colocar os pés em solo brasileiro, André Soncin diz sentir-se aliviado, mas não com a sensação de dever cumprido, até que todos tenham a mesma oportunidade que ele.

E numa mensagem partilhada com o jornal É@GORA, o responsável pelo grupo de brasileiros agradeceu a todos os que ajudaram durante os dias de incerteza em Portugal.

“Oi, pessoal! Acabei de chegar no aeroporto (de São Paulo), graças a Deus, graças a vocês. Eu devo muito a todas vocês, já que se não tivesse todo mundo se empenhando, nada disso seria possível. Estou sabendo que uma parte foi para um hostel e que terá um voo ainda vindo para o Brasil, alguém confirma isso para mim, senão eu não terei paz. Parece que nossa luta deu certo, que Deus abençoa a todos vocês, que lutaram; que ajudaram com doações; com palavras de apoio… Muito Obrigado!”, disse André, emocionado em rever sua família, após dias no relento.
Final feliz para todos?

De acordo com Rilane Oliveira, advogada e coordenadora de um dos grupos de apoio aos brasileiros que residem em Portugal, esta situação ainda está longe de chegar ao fim, uma vez que o número real de imigrantes à espera do repatriamento “é bem maior”.

“Os que não foram incluídos no voo fretado pelo Brasil foram mandados para um hostel, mas sem previsão de voo”, disse Rilane Oliveira, lembrando “as centenas (de brasileiros) que estão de favor nas casas de outras pessoas ou em abrigos de igrejas e que também querem voltar ao Brasil por que estão sem dinheiro para nada”.

“Não foram para a porta do aeroporto, mas existem. São seres humanos e estão sendo esquecidos. A Embaixada deveria, por transparência, informar quantos brasileiros, não turistas, estão pedindo repatriamento por não terem mais condições de se manter aqui”, apelou a jurista. (EA)

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