Quadros guineenses na diáspora contestam “Twitter” do PM português por ser favorável a Sissoco Embaló

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Encontro entre Umaro Sissoco Embaló e PM, António Costa. Foto: MADEM-15 ©


Um grupo de cidadãos guineenses e luso-guineenses residentes na diáspora protestou junto do primeiro-ministro de Portugal, António Costa, pelo facto de o chefe de governo português ter recebido, em Lisboa, Umaro Sissoco Embaló na qualidade de presidente eleito da Guiné-Bissau e posteriormente ter afirmado num ´Twitter` que se tratou de “um encontro de caráter privado”, mas “para analisar as futuras relações entre Portugal e Guiné-Bissau”, quando decorre um contencioso eleitoral naquele país africano.

Na carta, a que o jornal É@GORA teve acesso, os queixosos, que integram o denominado Grupo de Reflexão e Análise (GRA), dizem-se “inquietos” e “lamentam” a postura de António Costa, pelo que enviaram uma carta de protesto ao gabinete do primeiro-ministro português e outra ao responsável parlamentar para Assuntos dos Negócios Estrangeiros de Portugal.

“ (…)Escrevemos-lhe esta missiva para demonstrar a nossa insatisfação por esse seu legítimo gesto como amigo de longa data de Umaro Sissoco Embaló, como sua Excelência referiu na sua página do `Twitter`, mas como primeiro-ministro de Portugal, no nosso entender, não veio contribuir para o respeito e cumprimento escrupuloso que deve merecer um Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de qualquer país do mundo, independentemente do seu peso na cena internacional, com o agravante de ser um candidato a Presidente da República, exatamente a primeira instituição que deve dar exemplo de zelo e garantia de cumprimentos das leis da República e, neste caso, estamos só a falar da decisão da instância suprema de Justiça do país, o Supremo Tribunal de Justiça a quem cabe, de acordo com a lei eleitoral da Guiné-Bissau, a última palavra na resolução do diferendo eleitoral, na sua vertente de Tribunal Constitucional”, refere o grupo coordenado pelo escritor guineense Tony Tcheka.

Apoiantes

Os proponentes da carta nas escadarias do Parlamento português. Foto retirada do Facebook ©

O coletivo, que agrega vários quadros guineenses, luso-guineenses e não só, radicados na diáspora e naquele país africano, são, na verdade, defensores do candidato Domingos Simões Pereira.

Antes, durante e após a campanha eleitoral, parte destes esteve envolvido ativamente nas redes sociais na promoção de mensagens favoráveis ao então secretário-executivo da CPLP, que, apesar de, nas duas voltas do escrutínio, ter vencido na diáspora, foi declarado derrotado pela Comissão Eleitoral guineense.

O candidato Domingos Simões Pereira, dado como derrotado nas eleições a favor de aro Sissoco Embaló, interpôs um recurso no Supremo Tribunal de Justiça, por discordar dos resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) que considera manchado de irregularidades, especialmente, nos procedimentos da contagem dos votos.

Nesta quinta-feira, a Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) sugeriu à CNE guineense para fazer o apuramento nacional dos resultados até 07 de fevereiro, uma exigência já feita pelo Supremo Tribunal de Justiça.

Há uma semana, Umaro Sissoco Embaló esteve em Portugal, onde manteve encontros privados com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro português, António Costa.

No entanto, a sua visita criou um embaraço diplomático tanto em Portugal como na Guiné-Bissau. O Ministério do Negócios Estrangeiros guineense emitiu uma nota afirmando que desconhecia a viagem às terras lusas.

A instituição que responde pelo pelouro da diplomacia guineense criticou a decisão do seu embaixador em Lisboa, Hélder Vaz, por este ter convocado a comunidade residente em Portugal a receber o Presidente eleito quando ainda decorre um recurso contencioso no Supremo Tribunal de Justiça por alegada fraude eleitoral.

A situação levou a que tanto o Primeiro-ministro quanto o Presidente de Portugal não prestassem declarações à imprensa, até porque, protocolarmente, nenhum Presidente eleito deve usar as instituições do Estado do país anfitrião para dar entrevistas.

Contudo, em declarações os jornalistas em Lisboa, Umaro Sissoco Embaló desvalorizou as acusações.

“António Costa é um grande jurista, é um homem de Estado e muito estruturado. O Presidente Marcelo de Sousa é um Professor de Direito. Ele sabe que quem proclama os resultados é a CNE. Eles já proclamaram os resultados, há um Presidente eleito, pelo que receberam um Presidente eleito, não um presidente com contencioso no tribunal. Já estive com 15 chefes de Estado com quem me encontrei. Penso que essa é só uma questão de desinformação. Podiam até receber-me como um amigo, mas não: eles receberam um Presidente eleito da Guiné-Bissau”, disse. (MM)

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