Reflexão: A ausência de Angola no ranking das universidades africanas-2020

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FOTO: Angop ©

João Muteteca Nauege, Docente da Universidade Lueji A´Nkonde
No dia 27 de maio de 2020, o JA (Jornal de Angola) noticiou uma matéria que dava conta da ausência cada vez mais SONANTE das universidades angolanas. Há quem se espante? Pois, claro que há. Mas há quem não se espante também!
Por que é que as Universidades angolanas não fazem parte das 100 melhores do continente? Permito-me dar uma definição distendida daquilo que é uma Universidade:

A universidade é, por excelência, o centro de produção de conhecimento, sua gestão, difusão até à comunidade. O conhecimento produzido só é funcional quando difundido à comunidade, pois a Universidade deve estar ao serviço da comunidade, nenhum conhecimento é útil se não for para a transformação e para o benefício da sociedade.

Ora, conhecimento nenhum na era moderna, globalizada e tão sofisticada se produz sem investimentos para a formação de professores/formadores, em infra-estruturas condignas que propiciem ambientes de ensino e aprendizagem plenos. Conhecimento nenhum se produz e se difunde sem investimentos avultados em tecnologias, sem técnicas e sem recursos humanos à altura das exigências ingentes e globais.

Vem à colação uma pergunta ou várias, (i) será que o Governo Angolano não sabe da importância das universidades? (ii) será que o Governo angolano não aloca verbas (Dinheiros) para as universidades? (iii) será que as verbas (Dinheiros) não são suficientes? Os poucos dinheiros alocados têm sido bem geridos? (iv) será que os poucos recursos humanos, Mestres, Doutores, investigadores são valorizados e bem aproveitados ou ainda são marginalizados? A lista de questionamento seria infindável.

Uma coisa é certa, se não houver investimento sério, alocação de dinheiros para a formação inicial e continuada de professores, construção de centros de investigação de excelência, se não houver gestão parcimoniosa de tais dinheiros, de recursos humanos; as nossas universidades estarão sempre à SOMBRA, nem sequer na cauda poderão ser colocadas.

Se continuarmos a pensar que investir na CIÊNCIA é gastar DINHEIROS estamos condenados a perpétuo fracasso.

Já nos perguntamos por que que muitos países, nesse leque de 100 Universidades, que aparecem no ranking, desde o ponto de vista do potencial de Recursos minerais estariam/estão abaixo de Angola? Das várias respostas possíveis, há uma que pode tentar responder cabalmente à pergunta, esses países têm como prioridade a Formação e a Valorização de Recursos Humanos, que, por sinal, é a base de tudo, e a aposta séria na investigação científica.

Nalguns casos, é justo, na minha modesta opinião, considerar-se o professor universitário angolano como herói. Explico-me: Ele trabalha sem condições, às vezes está impreparado, doa-se mais, investe-se pouco nele, não se sente estimulado (profissional, social, financeiramente). É visto como coitado!!!! Mesmo assim, há quem sonhe de olhos abertos com o Ranking… não é fácil!!!! Para não dizer que é utópico.

A terminar a minha reflexão, deixo, aqui, alguns critérios que têm sido observados para o escalonamento de Rankings, repito alguns:

(1) Rácio de empregabilidade de recém-formados (2) Proporção de professores /aluno
(3) Número de professores com grau de Doutor/Ph.D (4) Pesquisa científica e publicação em revistas especializadas (ressalte-se pesquisa/investigação por professores) (5) Em quantas citações que os investigadores de uma universidade aparecem em revistas especializadas e não só. (6) Parcerias para a sua internacionalização. (7) Criação de empresas, invenções, descobertas por alumni (ex-alunos ou antigos alunos), etc.
Caso para dizer que muito tem de ser feito, se quisermos ver as nossas IES/universidades nos Rankings, pelo menos, em África, ao nível Mundial o sonho continua em pé.

A diáspora angolana tem o dever de se associar aos esforços, mesmo que ténues aos olhos de académicos, e hercúleos aos olhos de quem planifica e executa as políticas do país, para se mudar o quadro sombrio, trazendo todo o seu Know-how, contribuindo das mais diversas formas, todos os esforços deverão continuar a ser feitos para o bem das nossas universidades. (X)

1 COMENTÁRIO

  1. Permitam-me evocar a questão da bibliometria, sem a qual pouco ou nada se poderá fazer para melhorar este quadro. Como bem citou o Doutor Nauege, a produção científica originária das universidades e, acima de tudo, quando estas são mencionadas, citadas e inspiram outros estudos, outras univeraidades, é um aspecto inalienável. Outro facto é a língua inglesa nas produções científicas, se não tivermos o inglês como segunda língua na prod. científica em Angola, raramente os estudos daqui vão ser citados por outras univeraidades africanas. No entanto, nada disso é concretizado se não houver maior investimento na educação e na ciência localmente.

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