Elisabeth Almeida e Manuel Matola
O sétimo voo de repatriamento de brasileiros partiu hoje, às 14:00 de Lisboa, mas deixou em terra 36 novos ´acampados` na capital portuguesa. Estes são parte dos mais de 300 imigrantes provenientes de todo Portugal e que, desde quarta-feira, tentaram, sem sucesso, um lugar no avião que descolou do aeroporto Humberto Delgado diretamente para São Paulo.
O dia de hoje foi de um misto de sentimentos tanto para os que partiram, os que ficaram e os organizadores dos vários grupos compostos por mais de três centenas de imigrantes brasileiros que chegaram à capital portuguesa há três dias para guardar lugar na “fila de espera” na parte exterior do aeroporto.
Todos os 13 imigrantes brasileiros, que tinha voo marcado no dia 30 de abril e que foram auxiliados pela Segurança Social portuguesa que os alojou nas instalações da Fundação Inatel, em Oeiras, conseguiram regressar esta sexta-feira ao Brasil.
Casal albergado numa Igreja
Contudo, um novo grupo composto por 15 pessoas passou a estar, a partir de hoje, hospedado na Inatel. São, na verdade, os imigrantes que fazem parte dos 36 brasileiros que permanecem em Lisboa, dos quais 21 estão agora quer em casa de amigos, num hotel ou albergados numa Igreja.
É o caso de Rosângela Alves Simão, que viu o seu regresso adiado por quatro vezes, incluindo hoje, dia em que passou a estar albergada nas instalações de uma instituição religiosa na capital portuguesa por tempo indeterminado.
“Em setembro, nós compramos nossas passagens, são três: eu, meu marido e minha filha de seis anos. Nós compramos pela TAP e a TAP desmarcou e foi para Latam, compramos por uma agência do Brasil e nosso voo foi cancelado e remarcado pela Latam para o dia 7 de maio; do dia 7 foi cancelado de novo pela mesma Latam para o dia 2 de junho, que foi cancelado de novo e remarcado para o dia 4 de junho. Quando foi agora, na quinta-feira, a agência entrou em contacto comigo para informar que a Latam remarcou para o dia 15 de julho, que só tem vaga para o dia 15/07 e”, agora, “nós estamos em uma igreja e está difícil porque eu estou sem trabalho, meu marido também está sem trabalho e com uma filha pequena. Está complicada a situação”, resumiu Rosângela Alves Simão.
O casal de imigrantes diz encontrar-se hoje a viver numa Igreja por eventual falha na comunicação com os serviços consulares brasileiros em Portugal.
“Recebemos um e-mail do Consulado, mas não deram muito tempo para gente responder: um dia só para gente responder este e-mail e não conseguimos responder a tempo”, diz Rosângela Alves Simão num áudio enviado ao jornal É@GORA, no qual se ouve a voz abatida acrescentando o passo seguinte deste contacto com o Consulado.
“Fomos lá para o aeroporto e tinha uma barreira policial e, claro, não pudemos entrar, não conseguimos. Estamos aqui, nossa passagem foi cancelada pela quarta vez pela Latam e estamos aqui nesta igreja com criança. É complicada a situação”, insiste já num vídeo partilhado com o jornal É@GORA, desta vez a descrever as divisões do “novo lar”.
“Aqui é a salinha das crianças e aqui é onde a gente fica, aqui estão nossas malas, já estão prontas, só esperando… Aqui estão as passagens que estava para o dia 4 de junho. Estas são as passagens, primeiro pela TAP, depois mudamos para a Latam, que remarcou e depois remarcou de novo pela Latam, remarcou de novo para dia 4. Era para o dia 6, depois mudou para o dia 6 também, depois mudou para o dia 2 (de junho), depois para o dia 4 (de junho) e agora só tem voo no dia 15 de julho. Não temos como ficar nesta situação, estou aqui com criança e está muito difícil, por isso peço que nos ajudem”, descreve Rosângela Alves Simão.
Em entrevista ao Jornal É@GORA, Paulo César, natural de Brasília, disse que pelo menos 30 pessoas do grupo que ´acampou` desta vez no aeroporto receberam informações díspares sobre “listas e comunicados enviados pelos Consulados de Lisboa e Faro”.
Segundo Paulo César, primeiro, os imigrantes tiveram uma confirmação do Consulado para estarem esta sexta-feira no aeroporto, porque os seus nomes constavam de uma lista elaborada pelo “pessoal do consulado”.
No entanto, no local, aperceberam-se de que a situação, afinal, era outra, pelo que “os ânimos ficaram muitos exaltados”, quando os cidadãos brasileiros souberam que, no fundo, os documentos não tinham “nada de concreto”.
“O que foi dito por uma moça do Consulado é que estão trabalhando para que consigam próximo voo. Este voo de hoje já foi e já não tem condição de fazer nada”, disse.
Segundo o imigrante, os que permaneceram em terra continuam a aguardar uma decisão do consulado:
“Dizem que os nossos nomes estão numa segunda lista de espera”, mas “essa lista não é apresentada para se confirmar esses nomes. Nós temos voos confirmados junto do consulado a confirmar a nossa presença aqui. Então como é que podemos confiar nessa questão de lista de espera desse segundo comunicado? É muito complicado isso”, disse.
Na quinta-feira, o Consulado do Brasil de Lisboa emitiu uma nota na qual “desencoraja” a ida de imigrantes ao aeroporto de Lisboa sem convocação, tal como aconteceu com os 13 brasileiros que hoje embarcaram.
Paulo César reconheceu, entretanto, que o seu não consta desta lista dos 13 colegas, mas de uma “lista de espera”.
“Eu não tinha o nome na lista. Se tivesse o nome na lista eu teria embarcado no voo. Não só eu como os outros brasileiros que aqui estão”, referiu Paulo César.
Mas, acrescentou: “A questão é que todos nós recebemos confirmação de que era para nos apresentarmos no aeroporto para podermos fazer o check-in e embarcarmos neste voo de hoje”, embora “os nossos nomes não constem da lista. Nós temos a confirmação do Consulado de Faro, de Lisboa e (em) nenhuma das listas tinha nossos nomes”, disse.
“É uma desorganização muito grande, nós conseguimos identificar aqui na lista que ela não está completa de dados: uma tem nomes, outra tem só telefone ou e-mail. A lista está muito bagunçada, parece de estudante de primeiro ano primário e não é uma coisa de Consulado. A impressão que a gente tem é essa: muito desorganizado, a desinformação é muito grande e vieram só nos comunicar que vão tentar um próximo voo, ainda sem previsão de data e que nós estaremos na lista de espera”, declarou o imigrante.
Paulo César garantiu ao jornal É@GORA ter provas de “tudo” que representa garantias dadas pelo Consulado: “E-mail, voucher, telefonemas e uma vasta gama de informação para confirmar e que podem municiar vocês se estiverem mesmo dispostos a nos ajudar”, assegurou.
O caso que aconteceu com Paulo César não é único no seio dos imigrantes que lutam para abandonar Portugal, depois de terem perdido emprego devido à Covid-19 e a crise económica causada pelo isolamento social que os lançou para o desemprego levando a que muitos fossem despejados, por não conseguirem arcar com as rendas cobradas no país. E sem ter onde ficar esperam no repatriamento uma maneira de sobreviver a este momento de incerteza ao lado da família.
O imigrante Alex Santo, natural de Minas Gerais, aguardava pelo voo de retorno ao Brasil desde o dia 16 de abril, quando recebeu uma notificação do Consulado em Lisboa avisando que estaria no voo do dia 22, mas de seguida teve o nome retirado da lista.
“Eu fiquei na luta e graças a Deus eu consegui. O meu voo era para o mês passado e eu vim mesmo assim nos outros dias, fiquei na rua: Ficava um pouco aqui e outro ali. Eu não tinha lugar para ficar e acabamos ficando ao cuidado da Segurança Social de Portugal e fomos muito bem acolhidos, muito bem tratados e nos acompanharam aqui até o final. Tudo valeu a pena”, afirmou.
Alex Souza recebeu um comunicado do Consulado do Brasil em Portugal ainda no dia 16 de abril confirmando sua vaga no voo do mês passado, quando “o avião saiu, mas ele ficou”, disse André Soncin, brasileiro repatriado e porta-voz do grupo.
Em entrevista ao Jornal É@GORA, ainda no mês passado, Alex Santos falou sobre sua situação.
“Eu vim para cá (Aeroporto Humberto Delgado) quando confirmaram o meu voo e quando fui perguntar pelo meu nome já não estava na lista mais. Fui perguntar a razão e disseram que eu iria em um voo futuro, depois a mesma coisa. Agora eu estou aqui desde aquele dia esperando a resposta deles e não tenho resposta. Está tudo gravado no meu e-mail, eu não apaguei nada para ter a prova de tudo”, disse na altura em que estava `acampado`no aeroporto de Lisboa.
Um mês após da primeira marcação do Consulado, Alex Souza conseguiu hoje o repatriamento, deixando para trás o peso da imigração. (EA/MM)
Deixou para trás o peso do DESCASO HUMANO, deixou para trás o peso da falta de respeito e desinformação desses órgãos incompetentes isso sim, esse tipo de coisas que acontecem vindo de um órgão que se diz sério, merece uma bela ação judicial, é claro que sabemos que dinheiro nenhum pagará todo esse inconveniente causado a essas famílias, que se puseram a mercê de gente totalmente despreparadas sem saber o certo o que fazer, e sem sequer arranjar um alojamento decente até que a situação fosse resolvida, e pudessem retornar para sua pátria,o que vi de fora através das histórias contadas foi uma tremenda falta de preparo desses irresponsáveis, deixarem essas pessoas na rua da amargura sem sequer dar o devido apoio necessário de direito, é por essas e outras que eu desacredito cada vez mais no ser humano.