Manuel Matola
O Bloco de Esquerda em Santarém vai realizar na próxima segunda-feira, às 21:00, um debate online sobre Saúde Mental e Covid-19, um problema que afeta crianças imigrantes de primeira geração que, de resto, têm um risco acrescido de desenvolver a patologia, segundo conclui um estudo feito com crianças estrangeiras e portuguesas da Amadora.
O evento contará com a presença de Moisés Ferreira, deputado na Assembleia da República, pertencente à Comissão de Saúde; Carlos Céu e Silva, psicólogo clínico e presidente da “Olhar – Associação Pela Prevenção e Apoio à Saúde Mental”; e terá como moderadora do debate Filipa Filipe, psicóloga, membro da Coordenadora Concelhia do Bloco de Esquerda de Santarém.
O Instituto de Medicina e Higiene Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa está a desenvolver um estudo sobre o tema e que conclui que as crianças imigrantes de primeira geração têm um risco acrescido de problemas emocionais e comportamentais e são mais vulneráveis a perturbações de saúde mental.
“Se compararmos duas crianças do mesmo sexo, que pertençam a famílias com iguais rendimentos, onde os pais têm níveis de educação idênticos, a criança imigrante de primeira geração tem uma probabilidade 2,5 vezes maior de vir a desenvolver problemas de saúde mental”, disse recentemente Rosário Oliveira Martins, do Instituto de Medicina e Higiene Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa, citada pela agência Lusa.
A abordagem à saúde mental das crianças insere-se num projeto mais abrangente do IHMT que, em colaboração com os nove centros de saúde da Amadora e o Hospital Amadora Sintra, está a fazer o seguimento da saúde de 420 crianças de 4 anos, portuguesas e filhas de famílias oriundas de Cabo Verde, Brasil, Angola, Guiné-Bissau e S. Tomé e Príncipe.
Os primeiros dados, recolhidos entre junho 2019 e março de 2020, mostraram, segundo Rosário Oliveira Martins, “um padrão de desigualdades sociais e de saúde mental, com as crianças imigrantes em desvantagem”.
“Pertencem mais frequentemente a famílias de baixos rendimentos, com pais com empregos mais precários e a fazer trabalhos pouco qualificados”, afirmou a coordenadora do Doutoramento em Saúde Internacional e líder do Grupo de Investigação “Population Health, Policies and Services” do IHMT.
Os resultados mostram ainda, acrescentou, que “as crianças imigrantes, sobretudo as de 1ª geração têm um risco acrescido de ter problemas emocionais e comportamentais e como tal são mais vulneráveis a problemas de saúde mental”.
Segundo Zélia Muggli, pediatra e coordenadora do trabalho de campo do projeto, verificou-se que “as crianças imigrantes, de primeira e segunda geração, tinham mais dificuldades do foro emocional do que as crianças nascidas em Portugal e filhas de pais também nascidos em Portugal”, disse.
Tendencialmente, estas crianças não verbalizam essas dificuldades, o que poder potenciar quadros futuros de depressão e ansiedade.
“As crianças que guardam tudo, que internalizam os problemas, têm a tendência de acabar deprimidas, enquanto as que exprimem insatisfação tendem a desenvolver hiperatividade e agressividade”, apontou, por seu lado, Thierry Mertens, professor convidado do IHMT e especialista em saúde global.
“Claramente, a tendência para as crianças da imigração é de internalizar os sentimentos”, acrescentou.
O evento do Bloco de Esquerda que terá tansmissão por via da página do Facebook https://fb.me/e/3pO3zGmgU deverá fazer referência aos casos que ocorrem também em Santarém que acolhe uma significativa comunidade de imigrantes na sua maioria oriundos do leste europeu, seguindo-se os/as de nacionalidades brasileira e africana. (X)