SOS Racismo acusa Ventura de “deturpar a realidade” sobre racismo em Portugal

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Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo

Manuel Matola

O SOS Racismo acusou o deputado André Ventura, líder do CHEGA, partido da extrema-direita e anti-imigração, de usar estratégias “bem oleadas” na manifestação do sábado ao “mentir deliberadamente” e “deturpar a realidade” sobre a segregação racial em Portugal, quando “entidades insuspeitas” como a European Social Survey revelam que “62% dos portugueses manifestam racismo”.

No sábado, mais de mil militantes e simpatizantes do CHEGA percorreram a avenida da Liberdade, partindo do Marquês de Pombal em direção ao Terreiro do Paço, obedecendo as regras de distanciamento social, para demonstrar que em Portugal não existe racismo e “dizer que as minorias (étnicas) têm direitos, mas também têm dever para cumprir” no território português.

Reagindo aos protestos, o SOS Racismo considera que “alegar que em Portugal não há racismo é, pois, mentir deliberadamente. Esta ideia que André Ventura traduziu em slogan replica, infelizmente, declarações de líderes partidários tradicionais que declararam não haver racismo em Portugal em reação à manifestação anti-racista de 6 de Junho”.

Em comunicado, refere que “o ajuntamento” que o partido da extrema-direita realizou no fim de semana, em Lisboa, “foi anunciado pelo criminoso Mário Machado (ex-dirigente da Frente Nacional, um movimento cujos ideais advogavam a instauração de uma ideologia da supremacia branca em Portugal, e líder do grupo de extrema-direita ´Nova Ordem Social`) e oficializado por André Ventura e pelo Chega. O mote escolhido para o passeio foi ´Portugal não é racista`, designação, esta, que mereceu acolhimento e motivou, precisamente, pessoas que já foram condenadas por crimes de discriminação racial”.

Lisboa foi palco este mês de eventos a favor e contra o racismo
“Este é, aliás, um clássico em Ventura – diz uma coisa e repete o seu contrário. Apela a uma manifestação para afirmar que não há racismo em Portugal, ao mesmo tempo que fundamenta o seu apoio em pessoas que cometeram crimes motivados por ódio racial”, considera a organização”, ironiza a organização de defesa de minorias étnicas.

E mais, denuncia o SOS Racismo: “não foi só Mário Machado a acompanhar Ventura; vários dirigentes do Chega, como o caso de Luís Filipe Graça, Nelson Dias da Silva ou Tiago Monteiro, são conhecidos pelas suas participações em movimentos neonazis e pelas ligações a criminosos já condenados pelos tribunais. A sinalética observada pelo próprio Ventura, de braço bem levantado no ar, seja para afirmar que não há racismo em Portugal ou para confirmar o seu contrário, não deixa dúvidas de inocência sobre a sua real natureza fascista”.

Para o SOS Racismo, o partido de André Ventura “promove ativamente o racismo e a xenofobia” em Portugal.

“E bem sabemos que a verdade não é o forte nem uma preocupação para Ventura ou para o seu partido. Pelo contrário, a mentira e a deturpação da realidade são ferramentas bem oleadas da sua estratégia”, sublinha a organização, que descreve este exercício como tentativas falhadas.

“E este falhanço torna-se inequívoco perante dados objetivos de entidades insuspeitas como a European Social Survey, que no seu último inquérito de 2018/2019 revelou que 62% dos portugueses manifestam racismo, respondendo positivamente a pelo menos uma das seguintes questões: “há grupos étnicos ou raciais por natureza mais inteligentes? há grupos étnicos ou raciais por natureza mais trabalhadores? ou há culturas, por natureza, mais civilizadas que outras?”.

Segundo SOS Racismo, os militantes do partido de André Ventura “falham também claramente perante a recente e tão real e expressiva manifestação do passado dia 6 de Junho de 2020, em que milhares de pessoas tomaram a decisão de sair à rua não só em Lisboa e Porto, mas também em várias outras cidades deste país. E com uma grande diferença relativamente ao ajuntamento de hoje, é que muitas destas pessoas conhecem o racismo na 1ª pessoa, no quotidiano das suas vidas…e perante isto, não há como negá-lo”.

“Assim”, conclui, “a iniciativa a que assistimos do CHEGA, querendo negar o racismo, não deixa dúvidas do seu contrário de que este é um partido que promove ativamente o racismo e a xenofobia. É deliberada a sua perseguição às comunidades negras e ciganas e é recorrente o seu incitamento ao ódio. O ajuntamento a que assistimos fez prova disso”. (MM)

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