O escritor angolano, Kalaf Epalanga, autor do livro “Os Brancos também Sabem Dançar”, e que vive entre Portugal e a Alemanha, afirma em tom crítico que os imigrantes vão continuar a ser usados como “bode expiatório” das políticas sociais que abrangem toda a gente.
“Há muita gente, entre os nacionais, que se sente marginalizada. Logo, é mais fácil apontar o dedo a quem vem de fora”, responde em relação aos factores que têm impedido a integração plena, a começar pela legalização dos imigrantes.
Aponta o dedo ao sistema. “Não há como combater isso sem olharmos para as causas e consequências de séculos e séculos de políticas que têm vindo a ser implementadas e que já estão mais que provadas que não estão a funcionar”, lembra o escritor angolano, também abordado pelo Jornal É@AGORA, à margem de uma conversa com o público, moderada pelo seu editor Zeferino Coelho, na Festa do Avante.
Kalaf recordou então um episódio ocorrido na fronteira da Suécia para a Noruega, quando foi detido pela polícia de imigração e levado para a prisão porque tinha perdido os documentos.
O escritor não se compara àqueles que chegam ou vivem numa situação precária. “Sou um imigrante privilegiado”, afirma. “A maior parte dos problemas que os imigrantes enfrentam eu já não os vivo de uma forma direta”.
Mas, estando solidário com eles, critica as políticas de imigração da Europa, particularmente em Portugal, apontando casos de marginalização e de violação dos direitos humanos, a exemplo dos acontecimentos entre a polícia e moradores africanos ocorridos no Bairro da Jamaica, na magem sul do Tejo.
Kalaf considera que é preocupante o espaço que a extrema direita está a ganhar na Europa, não tanto na Alemanha, e concorda que os Estados e as próprias democracias devem estar atentos a tal fenómeno, definindo uma política de imigração que respeite o ser humano, seja ele africano ou de outra origem.
O escritor refere que o racismo e a xenofobia fazem parte de um sistema. A propósito das próximas eleições legislativas na qual participam candidatos afrodescendentes, Kalaf Epalanga sustenta que não será um político, mesmo sendo ele de origem africana, que vai mudar as atitudes e os comportamentos face à necessidade de uma tal definição.
“O sistema é muito mais inteligente, é muito mais perverso”.
Na sua opinião, “o sistema tem que ser desmontado em várias frentes”, sendo necessário atacar não apenas a questão dos imigrantes. É preciso atacar também as políticas de género e a questão da homofobia, assim como a própria história. (X)