Três cidades portuguesas ouviram centenas de protestantes dizer: “Exigimos justiça para Cláudia Simões”

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Manifestação em Lisboa /DR ©

Centenas de pessoas protestaram neste sábado nas cidades de Lisboa, Coimbra e Porto para denunciar a sistemática “violência policial” em Portugal e “exigir justiça” para a imigrante de origem angolana, Cláudia Simões, que acusou um agente da PSP de a ter espancado em frente à filha de oito anos, por a menor se ter esquecido de passe.

Em Lisboa, onde sempre foram acompanhados por um forte contingente policial, os protestantes desceram a Avenida da Liberdade, para exigir “direitos iguais” naquela que é uma das mais emblemáticas ruas da capital portuguesa, e continuaram a proferir palavras de ordem ao longo do percurso entre a rotunda do Marquês de Pombal e o Largo de São Domingos, na zona do Rossio.

A ação de protesto, organizado por 10 organizações, contou intervenções de vários ativistas antirracistas que, juntamente com políticos de diferentes partidos com representação parlamentar, decidiram prestar solidariedade com Cláudia Simões.

Também esteve presente na manifestação a mãe da imigrante angolana Cláudia Simões, que além de condenar a agressão da filha por um agente da Polícia de Segurança Pública, de forma emocionada, pediu uma atuação das autoridades de Justiça de Portugal.

“O regime tem de mudar. A minha filha não é um animal. Ela nem sequer consegue sair de casa. Só quero que se faça justiça”, afirmou Maria Simões.

Os organizadores do protesto consideram que “esta violência racista do Estado é sistemática nos bairros periféricos de Lisboa, para reprimir e aterrorizar, para manter os negros e ciganos, trabalhadores e pobres na condição de cidadãos de segunda, dificultando a organização e a luta contra este sistema”.

Por isso exigem “uma investigação séria e independente ao racismo em todas as forças de segurança”, feita também com a participação de organizações da sociedade civil.

Por isso, a dezena de associações que participaram no evento apelaram também para a adoção de “políticas firmes de combate aos discursos racistas nos meios de comunicação social”.

Falando aos jornalistas, a deputada do Bloco de Esquerda, Beatriz Gomes Dias, disse que “os recentes casos envolvendo a PSP e a comunidade africana não podem ficar sem resposta”, pois “é extremamente importante olhar para eles como são”.

São “casos de violência racista, na medida em que eles afetam de uma forma bastante desproporcional pessoas provenientes das comunidades racializadas”, considerou Beatriz Gomes Dias, deputada portuguesa nascida no Senegal.

A deputada Joacine Katar Moreira, que esta sexta-feira viu ser-lhe retirada a confiança política pelo LIVRE, partido pelo qual foi eleita nas legislativas de 2019, alertou para a repetição de casos de violência, especialmente, nas zonas periféricas de Lisboa.

“O que está em causa é a saúde da nossa sociedade. E essa saúde está a revelar-se muito fragilizada, porque nós toleramos o racismo constantemente”, disse Joacine Katar Moreira, para quem, com tudo isso, há um sinal que está a ser dado a todos.

O de que “se não és escolhida por aqueles que têm o poder, tu não serves. Mas isso não é democracia. A democracia diz-nos que cada um é importante nessa sociedade”.

Por isso, disse: “Eu não vou permitir que ninguém me diga que eu não estou onde deveria estar. Eu nasci para estar aí”, numa alusão ao diferendo que a opõe ao núcleo duro do partido liderado por Rui Tavares, que decidiu tornar Joacine Katar Moreira em deputada não inscrita no Parlamento.

No mês passado, a angolana Cláudia Simões acusou a PSP do Casal de São Brás, Amadora, de a ter espancado em frente à filha de oito anos, após um desentendimento com um motorista de autocarros, por a menor se ter esquecido de passe num casaco que deixou em casa.

Um vídeo posto a circular nas redes sociais mostra um agente da PSP a tentar imobilizar a mulher numa paragem de autocarro, perante o olhar de transeuntes que protestavam contra a atuação do polícia chamado pelo motorista para intervir.

Dias depois da agressão, a imigrante angolana foi constituída arguida e sujeita à medida de coação de termo de identidade e residência, indiciada do crime de resistência e coação sobre agente da autoridade, enquanto o polícia envolvido na agressão não foi constituído arguido. (MM)

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