Turn Up: o projeto artístico global assente na imigração

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Cindy Baptista

Numa casa no topo das montanhas imerso por uma natureza contagiante, 16 artistas provenientes de Portugal, Cabo Verde, Gâmbia, Gana, Itália, Serra Leoa, França, Alemanha e Togo encontram-se logo após o primeiro lockdown para criar um cd musical: TURN UP.

TURN UP é Trento em processo criativo e de renovação.

Num processo onde se misturam vozes, fantasias, harmonia, ação e géneros musicais – como o hip hop, afrobeat, dancehall, electrónica, instrumentos acústicos étnicos – ouvem-se sons digeridos da Austrália, sonoridades do rap de Lisboa e Trento envolvidos numa poesia rítmica que nos aquece o coração. O objetivo é fomentar a igualdade de oportunidades e a responsabilidade de homens e mulheres na superação de estereótipos e preconceitos existentes na sociedade.

Nana Motobi, Produtor executivo do projeto, nasceu em Gana no dia 18 de Fevereiro de 1983. Vive na cidade italina de Trento há mais de 10 anos. O seu objetivo é expandir o nome da sua label “Abe pe Show”; abrir as portas à diversidade; criar redes de conexão entre músicos residentes na Itália e no mundo; e promover a internacionalização da discografia da “Abe pe show” para dar a conhecer o que melhor se faz na região de Trento dentro da comunidade Africana e não só.

“O mundo é um coro. Se tocamos juntos tem harmonia e se não tocamos juntos não tem sintonia”, diz Nana Motobi.

Nana começou a fazer música numa casa abandonada. Hoje produz num espaço aberto com a colaboração de músicos e produtores multidisciplinares, onde a aprendizagem, espontaneidade e criatividade vivem em sintonia. Quando tinha 16 anos, em África, ia a um estúdio onde fazia sessões de uma ou duas horas conseguindo assim gravar as suas canções. Foi em Gana que o sonho e a necessidade de ter um estúdio seu começou a crescer. Nana queria produzir música de grande qualidade e isto requer tempo e sabedoria. Hoje conseguiu realizar o seu sonho. Tem um espaço onde pode dar asas à sua imaginação e produzir com tempo e precisão. Quer levar o seu estúdio “Abe pe show” a ser um dos mais conhecidos no mundo através do conceito, “originality and authenticity”.

Motobi, gosta de trabalhar nos detalhes que o levam a organizar um produto do caos para a sua unificação de forma harmônica. Aprendeu que quando há liberdade, respeito pelo outro, a criatividade ascende ao máximo. No projeto Turn Up há pessoas de diferentes países, línguas e culturas diferentes. A isto soma-se o facto de estarem a partilhar conhecimento e experiências que os ajuda a deixar de lado o medo que muitas vezes os bloqueia. Os músicos do Turn Up são doadores e interdisciplinares. Entre eles partilham língua cultura emoções e apoiam uns aos outros no seu crescimento pessoal e processo de escolhas.

Bamba de West Africa, natural da Gâmbia, inicia a sua intervenção recitando de forma introspectiva palavras poéticas que reforça aquilo a que Nana Motobi refere como liberdade criativa. Todas as pessoas o conhecem como Painkiller the real nigga.
Quando vivia em África fazia música apesar de não ser de uma família de músicos. O seu processo foi bastante particular:

“Eu escolhi a música e a música escolheu-me”, diz Bamba.

Quando chegou a Itália, Bamba começou a improvisar o freestyle. Um dia estava em Trento e encontrou Nana que lhe convidou para conhecer o seu estúdio. Foi a primeira vez que gravou uma música, recorda-se até hoje, foi com um artista de nome Boss.
Bamba refere que as pessoas acreditavam nele, diziam para ele continuar e acima de tudo para não desistir do seu sonho.
Antes do call para os artistas Turn Up, ele ia sempre ao estudo da “Abe pe show”.
Fez o casting para entrar no projeto e conseguiu. Diz que durante todo o processo de criação das suas tracks estava muito motivado porque antes ele era a sua própria experiência. Mas agora tornou-se na experiência Turn Up.
Acaba a sua entrevista deixando um Big up to “Abe pe show”; Big up to Big house, Big Up to turn Up; We no give up, we gonna keep it up.

Wasky lembra que dentro do Turn Up conheceu pessoas com diferentes backgrounds. Prestou atenção ao seu desenvolvimento interior e, apesar de ter estado a ajudar na alimentação do grupo e reposição dos alimentos na casa, foi à frente do microfone que ele se espelhava e entrava em contacto com o desejo de fazer música.

“O microfone deixa-me feliz”, garante.

Quando vivia em Ghana, Wasky ia muitas vezes ao estúdio. Fazia música porque se sentia livre. Tinha liberdade para criar. Quando sente a música, canta-a.

O seu pai dizia-lhe sempre que era muito espontâneo e que tinha uma capacidade enorme de improvisação. A música é natural para Wasky, um meio pelo qual ele expressa os seus sentimentos. Um lugar misterioso dentro dele.

Chegando em Itália, não tinha contactos de profissionais na área da música até conhecer Nana que lhe convidou para fazer música com ele. Nana abriu-lhe as portas do estúdio “Abe Pe Show” e desde esse dia nunca mais se sentiu sozinho.
Wasky refere que viver só a fazer música na cidade de Trento é uma realidade complicada, por isso estar envolvida num projeto como Turn Up é acender o seu desejo de dar a conhecer ao mundo a sua voz além da oportunidade de explorar mais o seu lado criativo e materializar algo que gosta.
E de um outro lado estar em Lagolo, imerso de uma natureza contagiante a fazer música, é paz para a alma.

Big House

Gabriele Casagrande ou Big House começou a fazer música hip hop em 2010 quando tinha 16 anos. Fez alguns anos de autodidata com a sua crew a fazer música na rua e no parque explorando o freestyle. Quando acabou o ensino superior iniciou um curso de produção musical em Milão: Engenharia do Som. E foi em 2018 que viajou para Manchester onde fez a licenciatura em Produção musical. Durante todos estes anos Big Houze faz música todos os dias.

Qual é a tua filosofia musical?

“Primeiro envolver-me no processo de criação musical com o objetivo de acrescentar algo de positivo no mundo: a música e as canções que componho; Segundo demonstrar o meu valor como artista e produtor musical; e para concluir tentar ter sempre as melhores músicas”. diz Gabriele Casagrande.

Big House também adorava que as pessoas conhecessem as suas músicas e as pudessem cantar. Espalhando a sua voz ela teria a oportunidade de dar a conhecer o que melhor se faz em Itália. Diz que quando cria só o facto de levar para o seu estúdio belas ideias já é uma oportunidade de crescimento. Refere que há uma frase que diz tudo: “don’t take too much too please”. Big Houze, acrescenta: “I don’t need much to please me”. Quando cumpre a sua missão de ter tempo e espaço para a criação diverte-se e consegue alcançar o seu objetivo.
Produzir para o projeto Turn Up por exemplo trouxe-lhe um fluxo de criatividade que já não tinha desde os 16 anos de idade: “Pensar menos e fazer mais”, além da beleza de trabalhar em equipa.
Este é o espírito Turn Up que está a fazer Big House e todos os músicos envolvidos no projeto a sentirem-se muito felizes.

Neste momento a Abe pe show de Nana Motobi lançou uma campanha crowdfunding com o objetivo de recolher fundos para a materialização do álbum Turn Up, e a difusão do projeto em diferentes plataformas online.
Participando na campanha de recolha de fundos terás a oportunidade de adquirir o álbum e em primeira mão. Junte-se à comunidade da Abe pe show e do projeto Turn Up. (X)

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