Manuel Matola
O deputado André Ventura, líder do CHEGA, o único partido da extrema-direita e anti-imigração em Portugal, garantiu hoje ter recebido apoio das “comunidades angolanas, brasileiras, moçambicanas, cabo-verdianas”, cuja presença no protesto deste sábado serviu como “testemunho também” de que “Portugal não é racista”.
“E para aqueles que achavam que íamos fracassar, hoje nós temos connosco comunidades angolanas, brasileiras, moçambicanas, cabo verdianas, de todo o lado, a dizer que Portugal não é racista e nunca seremos. Obrigado por terem vindo dar o vosso testemunho também”, disse André Ventura no discurso que proferiu no Terreiro do Paço, onde terminou a manifestação que qualificou de “histórica”.
Questionado pelo Jornal É@GORA se a presença e apoio das comunidades imigrantes era na condição de membros do partido da extrema-direita e anti-imigração em Portugal, a assessoria de imprensa do CHEGA não precisou quem são as pessoas que deram o “testemunho” na marcha, afirmando, contudo, que a presença dessas pode ter sido tanto como militante ou simpatizantes.
“Quando as pessoas se inscrevem como militantes não há nenhuma pergunta em que possam responder a isso. Pode ter sido como militantes, ou só como apoiantes. É muito difícil agora assim sem ter os dados da plataforma à minha frente poder dizer-lhe quantos angolanos temos” no partido, referiu fonte do gabinete de imprensa de André Ventura.
À pergunta se o CHEGA tem militantes de outras nacionalidades, a mesma fonte disse não ter a certeza, pelo que pediu tempo para apurar os dados, mas até ao fecho da reportagem, o jornal É@GORA não obteve retorno da mensagem de insistência à questão.
Hoje, mais de mil pessoas percorreram a avenida da Liberdade, partindo do Marquês de Pombal em direção ao Terreiro do Paço, obedecendo as regras de distanciamento social, para demonstrar que em Portugal não existe racismo e “dizer que as minorias (étnicas) têm direitos, mas também têm dever para cumprir” no território português.
“Nós amamos a nossa História, amamos a nossa cultura, amamos aquilo que é ser português. Por isso, se há 40 anos não acontecia, hoje aconteceu. Obrigado Portugal!”, disse o líder do CHEGA e candidato às próximas eleições presidenciais.
Num discurso de mais de 20 minutos transmitido em direto nas redes sociais daquele partido, André Ventura destacou na sua intervenção à situação da política interna, mas apontou ainda questão a condição das “minorias”.
Para o deputado do CHEGA, o seu partido “representa o povo comum, o povo português que trabalha, que paga impostos e que rejeita ser extremista”.
“Mas o povo comum rejeita sustentar minorias. Minorias que querem continuar a não fazer nada”, considerou, antes de elogiar em contraponto as polícias, os professores, os profissionais de saúde, os motoristas de transportes públicos e os empresários.
O evento realizado este sábado serviu também de resposta à manifestação do passado dia 06 de junho organizada por três movimentos da capital do país que se juntaram ao movimento global “Black Lives Matters” para exigir, em Portugal, “o fim da violência policial”, dada à falta de esclarecimento à pergunta: “A quem ligar quando a polícia mata?”.
Reagindo hoje, André Ventura afirmou: “Outros saíram à rua há duas semanas a dizer que os nossos polícias, os brancos e os portugueses são racistas. Saíram à rua para vandalizar estátuas e monumentos, e dizer que a nossa História nos devia envergonhar. Hoje estamos aqui para dizer precisamente o contrário: Temos muito orgulho da nossa História, que amamos o país em que nascemos e estamos dispostos a morrer por ele. Por muitas ameaças que nos façam, por muitas ameaças que me façam, este movimento já não vai parar. Mesmo que acabem comigo, este movimento nacional já não vai parar nem se vai vergar porque no nosso espírito está a reconstrução de Portugal e é isso que vamos fazer até ao fim”.
O partido de André Ventura pretendia igualmente responder a uma outra manifestação anti-racista que havia sido marcada para sexta-feira em frente à Assembleia da República, mas que de na véspera foi cancelada porque “o local escolhido para a realização deste ato político, frente às escadarias do palácio de São Bento, não oferece todas as condições para a observação das normas de segurança sanitária”.
As sete organizações que tinham marcado a concentração diante do Parlamento pretendiam exigir “que os guardiões institucionais da Constituição de Abril saiam da sua letargia e excluam, pelo seu manifesto racismo e fascismo, o CHEGA e o deputado André Ventura da Assembleia da República”.
Em reação ao jornal É@GORA ao longo da semana, o líder do CHEGA criticou a realização de uma manifestação “contra partidos legitimamente eleitos”.
“Não compreendemos, nem aceitamos uma manifestação que seja contra partidos legitimamente eleitos”, disse André Ventura numa nota enviada ao jornal É@GORA. (MM)
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