“Vou dar aos meus filhos tudo aquilo que não tive quando era criança”. Não, não vá por aí, diz especialista

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Manuel Matola

“Como os pais podem prosperar na vida financeira e impulsionar os filhos?”, questiona o consultor empresarial e de planeamento estratégico Marcos Miranda que defende uma abordagem totalmente diferente da que muitos pais têm vindo a adotar na relação financeira com os filhos.

O especialista brasileiro, filho de português, lembra de uma máxima muitas vezes usada por famílias mono ou pluriparentais, incluindo os que migram por questões económicas, que passam dificuldades e decidem introduzir algumas atitudes compensatórias da fase difícil da vida após alcançar a prosperidade.

Marcos Miranda, consultor empresarial e de planeamento estratégico. FOTO: MF Press Global ©
“A maioria das pessoas já deve ter falado ou ouvido a frase em algum momento da vida: ‘Vou dar aos meus filhos tudo aquilo que não tive quando era criança'”, diz Marcos Miranda lançando uma pergunta provocadora que leva à reflexão: “Mas sabe porque essa frase deve ser repensada?”.

De acordo com o especialista em planeamento estratégico e advogado Marcos Miranda, nos seus atendimentos sobre prosperidade na vida financeira, tem percebido que embora essa frase pareça uma frase de superação dos pais e acolhimento dos filhos, na vida quotidiana, não é bem o que acontece.

“A grande maioria dos pais que utiliza essa expressão e a tem como lema para vida não consegue assumir posturas adultas na gestão de suas finanças e consequentemente se sentem limitados ou estagnados em prosperar na vida financeira”, garante o especialista em Administração, acrescentando uma das características mais marcantes deste grupo de progenitores.

“A conduta desses pais é frequentemente consumista, impulsiva e imediatista, pois querem compensar as frustrações de sua criança interior fornecendo aos filhos tudo que eles pedem, independente da necessidade e sem olhar as consequências”, refere Marcos Miranda.

E aponta uma consequência deste tipo de reação.

“Em decorrência da elevada exigência em compensar o que não tiveram no passado esses pais apresentam também um elevado nível de ansiedade, rigor, tristeza e cobrança de si mesmos”, diz o consultor empresarial, que há quase uma década ministra cursos e treinamentos nas áreas de contabilidade, finanças, gestão de pessoas e do conhecimento, planejamento estratégico.

De acordo com Marcos Miranda, nas condutas pertinentes às finanças destacam-se o medo desses pais de “arriscar em novos nos negócios, investir dinheiro, dispor-se a novas oportunidades e situações similares”, isso porque “há o temor de perder o que tem e assim não conseguir ofertar aos filhos o que não teve”, na verdade, “é um ciclo constante centrado em um comportamento de escassez”.

Para o consultor empresarial, “essas condutas costumam ser prejudiciais na relação desses pais com o dinheiro e auto realização, porém se refletem também em seus filhos”.

E explica como tudo se processa a nível mental: “Esses [filhos], por sua vez, costumam apresentar dependência e sensação de incapacidade em relação aos pais e a vida”, ou seja, “os filhos que recebem tudo dos pais e se sentem privados em experimentar a autonomia na própria vida tendem a acreditar que não são capazes de conseguir suas próprias conquistas. Tornam-se frequentemente pessoas inseguras e com dificuldades em lidar com o dinheiro e prosperar na vida financeira”, explicou.

Como os pais podem sair dessa dinâmica de compensação?

Uma forma de sair dessa dinâmica de compensação, conforme Marcos Miranda, “é os pais verdadeiramente olharem para a sua criança interior e cuidar das feridas interiores, ofertando à sua criança o que ela não pode ter quando precisou”.

Resumindo: “Ao invés de [dizer] eu vou dar aos meus filhos o que não tive, o ideal é que se diga: eu vou me ofertar aquilo que me fez e continua me fazendo falta”.

Contudo, acrescenta o especialista, “é importante entender esses sentimentos de falta: quando se olha para o passado é comum ver situações sem entender o que resultou dela na [nossa] mente. Se você, por exemplo, passou fome quando criança, é normal acreditar que precisa estocar comida para que não falte nada, porém o que esta por trás dessa conduta não é a fome em si, é sim o medo e a insegurança em faltar algo que você considera que nunca deveria ter faltado”

E aponta uma dica para lidar com isso: “Um pensamento próspero para esse exemplo é você assentir quanto ao seu passado, responsabilizar-se sobre ele como um adulto e comprometer-se em se cuidar para que a sua vida possa ser diferente e prospera”, contou.

Segundo Marcos Miranda, essa nova postura gera um sentimento de realização na vida e consequentemente prosperidade.

E aí “as finanças começam a se acertar, as oportunidades que antes não eram vistas parecem estar cada vez mais presentes e o medo de não ter passa a ser olhado como força para ter”.

Assim, conclui o especialista, “para se ter prosperidade na vida financeira é necessário cuidar também das nossas questões emocionais, olhar para os nossos sentimentos e procurar ajudar para entende-los de forma a trabalhar o seu autoconhecimento”. (MM)

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