Zelensky em Portugal e o poder de influência da narrativa africana sobre a guerra

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FOTO: UKRAINIAN PRESIDENTIAL PRESS SER

Manuel Matola

O Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, aceitou um convite do seu homólogo português Marcelo Rebelo de Sousa, para visitar Portugal, que para a associação de ucranianos é “um país estratégico” para ajudar Kiev nos seus objetivos diplomáticos em África.

A presidência portuguesa anunciou hoje que as equipas dos dois paises “ainda estão a trabalhar na data” para a visita de Zelensky a Portugal.

Em declarações hoje ao jornal É@GORA, o responsável pela associação ucraniana em Portugal, Pavlo Sadokha, considerou uma boa notícia a decisão de Zelensky visitar o território português.

E justificou porquê: “Portugal é um país estratégico enquanto membro da NATO, da União Europeia e tem ligação com África”, sobretudo a lusófona cuja narrativa de guerra tem sido pró-Rússia.

Em julho, o Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que durante quatro meses a Rússia iria enviar gratuitamente entre 25.000 e 50.000 toneladas de cereais a pelo menos seis países africanos e garantiu que iria suportar o custo do transporte dos grãos.

“Nos próximos três a quatro meses estaremos prontos para fornecer gratuitamente entre 25.000 e 50.000 toneladas de cereais ao Burkina Faso, Zimbabué, Mali, Somália, República Centro-Africana e Eritreia”, afirmou na altura o chefe de Estado russo na sessão de abertura da cimeira Rússia-África, em São Petersburgo.

Contudo, até ao momento, não há confirmação de envio de cereais a esses países.

Em conversa com o jornal É@GORA, Pablo Sadokha destaca a importância da visita de Zelensky sobretudo numa altura em que o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia tem dado “muita importância à ligação com África”, especialmente o espaço lusófono, onde “Portugal tem [poder de] influência” dada a relação histórica com as ex-colónias.

Neste sentido, a visita “tem importância”, disse o presidente da associação ucraniana em Portugal, onde residem quase 100 mil cidadãos da Ucrânia, dos quais 60 mil vivem em regime de proteção temporária, um estatuto que Portugal concedeu a pessoas que fugiram daquele país do leste europeu desde a invasão russa a 24 de fevereiro de 2022.

A nível interno, a visita de Zelensky a
Portugal servirá para aprofundar as relações de cooperação entre os dois estados, pois no que diz respeito à comunidade ucraniana o Presidente ucraniano não terá quase nenhuma queixa a receber.

No entanto, Zelensky poderá exigir a Marcelo Rebelo de Sousa que Portugal considere a Rússia “um Estado terrorista” face a atual “agressividade sem limites nos métodos para massacrar e destruir” a Ucrânia.

Essa é uma reclamação antiga já manifestada pela associação ucraniana ao Parlamento português, mas sem êxito.

Enquanto comunidade migrante, “não temos muitos problemas” a apresentar ao Presidente Zelensky, assegurou Pavlo Sadokha ao jornal É@GORA.

Há dias, Portugal estendeu por mais seis meses o estatuto de protecção aos ucranianos permitindo-lhes assim ter acesso directo à segurança social, saúde e número fiscal, além de outros privilégios no processo de integração na social portuguesa.

Este regime é aplicável, igualmente, cidadãos de outras nacionalidades que na altura da eclosão da guerra residiam na Ucrânia para onde não podem regressar pelo mesmo motivo: a guerra em curso naquele território. (MM)

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